ABC Heart Fail Cardiomyop 2022; 2(2): 133-135
Transplante Cardíaco de Coração de Porco Geneticamente Alterado: Mudança de Paradigma?
O transplante cardíaco persiste a terapia de escolha para pacientes com doença cardíaca terminal, mas ainda é limitado pela escassez crônica de órgãos doados. Dispositivos de suporte circulatório mecânico (SCM) vêm sendo utilizados como terapia de destino, com modernos modelos de bombas e resultados cada vez melhores, que impactaram muito a sobrevida dos pacientes. As indicações de SCM aumentaram significativamente e faz parte do contexto atual de candidatos potenciais ao transplante cardíaco, quer seja como terapia de destino, ponte para transplante ou ponte para candidatura. Permanece, no entanto, um grupo significativo de pacientes que ainda se beneficiariam do transplante, se os órgãos doados tivessem maior disponibilidade. Segundo dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), realizamos cerca de 400 transplantes cardíacos, ao ano, no Brasil, porém a demanda seria de 1600 procedimentos ao ano, mostrando que um número grande de pacientes morre à espera do órgão a ser doado.
Uma possível solução para este problema seria o uso de enxerto de outros animais, denominado xenotransplantes, que vem ganhando interesse crescente nos últimos anos,, por uma combinação de fatores. Primeiro, houve uma melhora na eficácia em vários modelos pré-clínicos, com aumento nos tempos máximos de sobrevivência do xenoenxerto. Em segundo lugar, o rápido desenvolvimento da tecnologia de edição de genoma, particularmente o advento do CRISPR (clustered regularly interspaced short palindromic repeats), que revolucionou a capacidade de gerar novos porcos doadores com múltiplas modificações genéticas protetoras; o que antes levava muitos anos para ser alcançado agora pode ser realizado em meses, com muito mais precisão e alcance. Terceiro, o espectro do retrovírus endógeno suíno (PERV) diminuiu significativamente. Não houve evidência de transmissão de PERV em ensaios clínicos e modelos pré-clínicos, e novas opções para o tratamento ou mesmo eliminação dessas viroses estão agora disponíveis. Em virtude do seu potencial, o xenotransplante como solução para a escassez de órgãos e tecidos humanos para transplante permanece uma grande esperança para a comunidade transplantadora e obviamente para os pacientes que aguardam em filas de espera, convivendo com doença avançada e alta mortalidade.
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